quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Internautas inventam uma nova forma de fazer jornalismo

Modelo de mídia colaborativa aponta novos caminhos para o jornalismo.

O impasse sobre a construção de dois viadutos ligando as avenidas Padre Antônio Tomás e Engenheiro Santana Júnior, em Fortaleza, ganhou destaque no Global Voices. O portal independente reúne conteúdo produzido por jornalistas e não jornalistas, que disponibilizam suas produções de forma colaborativa. O site conta com mais de 800 colaboradores, entre blogueiros e tradutores espalhados por todo o planeta.  

Como a Prefeitura Municipal de Fortaleza quer que seja: 



(FOTO: Divulgação)



Confira matéria do Global Voices na íntegra: 

Fortaleza: Justiça brasileira autoriza obra no Parque Ecológico do Cocó


A cobertura foge dos moldes tradicionais. No caso da ocupação do Paque do Cocó por manifestantes contrários a construção da obra viária, um dos diferenciais foi a veiculação de um mini-documentário produzido pelo grupo Canal Popular, além de informações do Rapadura Popular, ambos, conteúdos também produzidos de forma coletiva.


Temas e assuntos que, em geral não encontram ressonância na mídia tradicional, encontram espaço no portal de notícias. Um exemplo é a cobertura dos protestos realizados no Benim, país da África Ocidental.  O fato não obteve repercussão na mídia tradicional brasileira seja radiofônica, televisiva ou impressa, no Global Voices foi uma das matérias em destaque.  Vestidos de vermelho, os benienses saíram às ruas em protesto contra a reforma constitucional proposta pelo presidente da república, Boni Yayi. O movimento nasceu no Facebook.  



Confira matéria na íntegra:

 Quarta-feira Vermelha: onda de protestos no Benim

O diferencial do Global Voices é a abordagem, o ângulo com que os colaboradores enxergam a notícia. Como se trata de um portal colaborativo de notícias, as matérias não sofrem censura, não estão sujeitas à regras impostas por uma linha editorial. Ao contrário do que se comenta nos bastidores da produção realizada por grande parte das empresas jornalísticas tradicionais.

O site atrai a curiosidade do público, em especial dos jovens como Soriel Leiros, estudante de jornalismo da Faculdade 7 de Setembro, que conversou com o blog através do Facebook. O conteúdo do Global Voices chamou a atenção do educando: “A organização dos conteúdos e a diversidade de informações. Outro ponto que merece destaque é a praticidade de achar o que se busca na página”.

Soriel vê o site colaborativo e as formas tradicionais de jornalismo se complementam: “Não como algo melhor ou pior, mas que tem um outro olhar diante dos fatos. Possui características e linguagem próprias, o que o torna um grande espaço de pesquisa e de informação”.

Na opinião de Izolda Ribeiro, assessora de imprensa e estudante de jornalismo, a participação de blogueiros e colaboradores dá mais dinamismo ao site: “o bacana é que tem gente do mundo todo que colabora com a atualização do site, faz o site ter uma linguagem plural, dinâmica, diversa”. O blog conversou com a estudante por Facebook.
       

 Um modo diferente de se fazer notícia

A forma colaborativa subverte a lógica estabelecida do processo de produção tradicional, baseado nos moldes do capitalismo ocidental, onde se contrapõem de um lado as empresas  detentora dos recursos tecnológicos e dos meios de produção, do outro a classe operária, os empregados, que trocam sua mão de obra por salários pagos em troca de seu trabalho.

Neste modelo, o jornalismo não precisa ser feito necessariamente por um jornalista. Qualquer um pode utilizar de recursos tecnológicos simples para produzir uma matéria. É caso do mestrando em sociologia e zinetecário, João Miguel Lima. O colaborador escreve de Fortaleza.


Em geral, os colaboradores são blogueiros que se identificaram com a proposto do Global Voices. Poderiam escrever em seus blogs, mas juntos acreditam que tornam-se mais fortes e atingem um número maior de pessoas.

Aos poucos este modo de fazer jornalismo acaba mudando também o modo tradicional, na medida em que jornais, portais, programas de rádio e televisão de grandes empresas, passam a apostar na participação de colaboradores.

No Ceará, por exemplo, o portal do Jornal O povo tem a sessão "Você faz opovo", inteira dedicada a participação de internautas que podem contribuir com artigos, fotos, vídeos, informações, comentários e votação.

Este novo modo é um exemplo do que é a Web 2.0, cuja característica principal é a interatividade. Os desenvolvedores ao invés de produzir conteúdos, passam a criar plataformas intuitivas, onde o internauta possa aprender rapidamente utilizar. O internauta deixa de ser um mero consumidor de informações e passa a ser por vezes um colaborador, um distribuidor, um produtor de conteúdo.

Sites colaborativos são nova fonte de informação

No dia 25 de junho de 2009, milhares de pessoas ao redor do mundo ficaram sabendo da morte do cantor Michael Jackson através da Internet. Algumas através de sites de notícias, outras pelas redes sociais. O imediatismo da Internet coloca os portais de notícias numa posição estratégica, a de comunicadores dos fatos em primeira mão, posição disputada com o rádio.

Notícias trágicas ou sensacionalistas envolvendo personalidades, além de apelativas atiçam a curiosidade e por isso geram grande interesse do público, e, por consequência audiência para os grandes veículos de comunicação.

Este gênero de notícia sempre encontra espaço na grande mídia, o mesmo não se pode dizer, por exemplo, de fatos relacionados a reivindicações de movimentos sociais. Muitas vezes nem mesmo em veículos de alcance local.

Analisando mais de perto a internet  vai se perceber que os sites ligados à grandes empresas de comunicação apresentam temas em comum, e que embora apresentem uma grande variedade de editorias, possuam um grande contingente de profissionais produzindo conteúdo, ainda assim haverão assuntos de relevância social, que  são "renegados" pela grande mídia.

Nem todos os segmentos da sociedade tem voz na grande mídia tradicional. E onde estas representações encontram espaço para expor os fatos importantes relacionados a sua realidade? Na internet, em sites colaborativos como o Global Voices.

Uma das características que se observa logo que se "entra" no site do Global Voices são os assuntos pautados pelo site. Em parte, não coincidem com os temas pautados pelos grandes veículos de comunicação tradicionais.

Entenda mais

O Global Voices foi fundado em 2005 por Rebecca MacKinno,  ex-chefe de redação da CNN em Pequin e Tóquio, e por Ethan Zuckerman, tecnólogo e especialista em África. Hoje o portal tem seu conteúdo traduzido para mais de trinta idiomas. No início era um simples blog que nasceu durante um encontro internacional de blogueiros que se reuniu em Harvard, em dezembro de 2004.

O site sobrevive de bolsas, patrocínios, trabalhos comissionados e doações para cobrir gastos. Embora o Global Voices seja uma fundação sem fins lucrativos, não existe um escritório, mas sim uma comunidade virtual.


2 comentários:

  1. Agora mais importante do que simplesmente dar voz às pessoas nas novas mídias é fazê-las compreender o quão difícil é o trabalho jornalístico sério, o quanto se busca e jamais se pode alcançar a tal imparcialidade. Que tudo é uma questão semiótica de observadores e fenômenos observados repletos de infinitas variáveis, que dizem respeito aos repertórios de cada observador.

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  2. O jornalismo colaborativo é algo arriscado. Pois é necessário que o produtor da informação(jornalista ou não)tenha segurança acerca do assunto/tema abordado, para que não seja apenas "achismo". Conhecer o ambiente que está pautando de forma imparcial.

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